título do trabalho
work title
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wedding landscape, 1996


negativos preto e branco, chapas de acrílico e parafusos
114 x 149 x 1,5 cm


black and white negatives, Plexiglass plates and bolts
114 x 149 x 1,5 cm

© Rosângela Rennó
© Rosângela Rennó

A história é um organismo vivo: uma entrevista com Rosângela Rennó

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MM:
Wedding Landscape é uma das mais intrigantes de suas obras. A obra é uma coleção de negativos organizados como uma cachoeira de imagens suspensas entres duas placas de acrílico. Quais são as imagens que vemos? Onde você as encontrou? 

RR: Em 1994 fui a Havana, Cuba, pela primeira vez, onde ganhei uma caixa inteira de negativos fotográficos realizados em um estúdio local. A caixa deveria ter uns 7 quilos. Os negativos em formato 120 e 35mm continham a documentação de cerimônias de casamento. A fotógrafa que administrava o estúdio me levou ao sótão e me disse para levar tudo o que quisesse, pois o estúdio não tinha mais interesse em guardar aquele material. Apenas uma cópia dos negativos era entregue ao cliente. Como o material fotográfico era muito escasso no país, sequer era cogitada a possibilidade de fazer uma nova cópia, posteriormente. Esse material não era submetido a nenhum tipo de classificação nem era guardado pelo nome do cliente, tornando-se inútil, um material que seria futuramente destinado ao lixo. Com este material criei algumas séries específicas, e duas peças especiais, a partir dos próprios negativos, uma das quais foi Wedding Landscape

De maneira geral, todas as mulheres nos negativos estavam vestidas com vestidos de noiva mas nenhuma das cerimônias foi realizada em alguma igreja. A documentação seguia um certo protocolo que era o mesmo para todos os casais de noivos: foram realizadas em um ambiente clássico, fotos no sofá, fotos diante de um espelho, etc., todas culminando com a foto do casal, despedindo-se, dentro de um carro ou em cima de uma motocicleta. Não me lembro mais de quantos casais havia em cada rolo de negativo. O que me impressionou foi o fato de que a sequência de imagens era idêntica para todos os casais envolvidos, seguindo um modelo pré-estabelecido. 

EC: Como a obra se relaciona com o gênero de paisagem—que está no título—e o gênero de retrato? 

RR: A repetição das cenas, a monotonia da documentação foi o que de fato me interessou, naquela coleção de negativos. Percebi que a quantidade de cenas seguindo um padrão de repetição poderia funcionar como uma espécie de textura e a disposição dessas tiras de negativos, entre placas de acrílico, sugeriria a sobreposição de planos, como numa paisagem. O formato grande leva o espectador, de início, a ver uma massa de pretos, cinzas e transparências, constituídas de detalhes indistintos. Mas ao se aproximar, percebe que há uma infinidade de ‘unidades’ que se repetem. Essa uniformidade foi justamente isto o que me levou a pensar numa grande paisagem, onde o retrato individualizado se perde na massa escura do conjunto. Quando estamos diante de uma paisagem alternamos nossa visão, ou nosso foco, para sua completude ou para seu detalhe aproximado. 

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CHAGAS, Elise; TURNER, Madeline Murphy. A história é um organismo vivo: uma entrevista com Rosângela Rennó (excerto de texto). In MoMA Magazine, 2022, disponível em: https://www.moma.org/magazine/articles/769.

Translated from Portuguese by Steve Berg
History Is a Living Organism: A Conversation with Rosângela Rennó

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MM: Wedding Landscape is one of the most intriguing of your works. It is a collection of negatives organized as a cascade of images shown between two panes of acrylic. What are the images we see? Where did you find them?


RR: In 1994 I went to Havana for the first time. There I acquired an entire box of negatives produced in a local studio. It must have weighed about seven kilos. The 120 and 35mm film negatives documented wedding ceremonies. The photographer who ran the studio took me to the attic and told me I could take whatever I wanted, because the studio was no longer interested in keeping them. Only small copies of those negatives had been given to the client. Since photographic material was very scarce in Cuba, the possibility of subsequently printing new copies was never considered. The negatives hadn’t been cataloged nor kept under the client’s name, thus becoming useless. I used them to create several series and two unique works, one of which was Wedding Landscape.



In general, all of the women in the negatives wear bridal gowns, although none of the ceremonies were held in churches. The documentation followed a protocol that was the same for all the couples: they were shot in traditional settings, on couches, before a mirror, etc., culminating with a shot of the couple waving goodbye from a car or a motorcycle. I no longer recall how many couples there were on each roll. What struck me was the fact that the sequence of images was identical for every couple involved.



EC: How does the work engage with landscape—which is in the title—and portraiture?

RR: The repetition of the scenes and the monotony of the documentation in that collection of negatives was what interested me. I realized that the quantity of scenes that followed a pattern could function as a texture, and that the arrangement of these strips of negatives in between acrylic sheets would suggest the juxtaposition of planes, as in a landscape. The large format initially leads the spectator to see a mass of blacks, grays, and transparencies, made up of indistinct details. But upon closer examination, it is possible to see an infinity of “units” that repeat themselves. This uniformity was precisely what led me to think of a great landscape, in which the individual portrait is lost in the dark mass of the whole.

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CHAGAS, Elise; TURNER, Madeline Murphy. History Is a Living Organism: A Conversation with Rosângela Rennó (text excerpt). In MoMA Magazine, 2022, disponível em: https://www.moma.org/magazine/articles/769.


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