1551-2020, 2023


impressões digitais em papel de arroz Hahnemühle 110g com intervenções de carimbo e capa de vinil texturizado
21 x 18 cm (fechado) | 140 pp. + uma folha anexa

pesquisa e edição de imagens por Rosângela Rennó
fotos de Rosângela Rennó e Julia Rennó
projeto gráfico de Daniela Seixas e Beni Conrad
encadernação japonesa por Alessandra Lagun

editado pela artista
edição única
português
digital prints on Hahnemühle rice paper 110g with stamp interventions and textured vinyl cover
21 x 18 cm (closed) | 140 pp. + one enclosed sheet

research and image editing by Rosângela Rennó
photos by Rosângela Rennó and Julia Rennó
graphic design by Daniela Seixas and Beni Conrad
japanese binding by Alessandra Lagun

edited by the artist
unique edition
Portuguese
©  estúdio Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó

Em meados do século 20, um manuscrito foi encontrado dentro de uma das Décadas da Asia, sobre algo maravilhoso que se descobriu entre 1550 e 1551 e ficou esquecido. A descrição era do que o fray António da Madalena viu, com seus próprios olhos, ao caminhar pela mata fechada, junto ao Rei Sâtha, à caça de elefantes. Ao se tornar o primeiro europeu a conhecer os templos de Angkor, o frade português talvez nem compreendesse a magnitude de tudo que estava ali, feito por vinte reis, ao longo de 700 anos, nem mesmo porque foi abandonado. Menos ainda poderia supor o que aconteceria àquele reino cerca de 400 anos depois... Que entre os séculos 19 e 20 se tornaria parte da Indochina Francesa e que poucas décadas depois de finalmente tornar-se independente, todo o território seria devastado por vinte anos de guerras sangrentas, quando se perpetrou um dos maiores genocídios de todos os tempos. 

Os chineses, sempre muito atentos às boas oportunidades, já faziam comércio por lá pelo menos mil anos antes da chegada do frade português e foi com ideogramas que escreveram boa parte da história daquele reino próspero e construtor. Sabemos que da Índia vieram a iconografia, arte, a arquitetura, além do Hinduísmo e do Budismo, que ensinaram aquele povo a suportar os ciclos de destruição e reconstrução, ao longo de muitos séculos. 

Durante os anos 1990 era comum ver centenas de vítimas das minas terrestres, principalmente crianças, dentro e fora dos templos de Angkor, mendigando alguns trocados dos turistas ocidentais que finalmente redescobriam as maravilhas arquitetônicas do antigo reino. Hoje, aqueles indivíduos não estão mais lá, exceto um ou outro, adulto, com uma boa prótese num braço ou numa perna, promovido a guia turístico, para sutilmente nos relembrar um passado cruel e muito recente. Hoje, ao circular pelos templos, é necessário abstrair-se, física e mentalmente, das hordas de turistas ávidos pelas melhores selfies, para fixar o olhar sobre algo que parece estar eternamente entre o reconstruir e o desabar.

No final da primeira década do século 21, uma outra grande calamidade se abateu sobre boa parte do Camboja, em particular sobre a costa, incluindo a cidade que carrega o nome de seu penúltimo rei, Sihanouk, o ‘pai da pátria’. A voracidade com que os chineses invadiram aquelas belas praias para transformá-las em seu recanto de lazer é algo que salta aos olhos. Um grande poeta e compositor brasileiro me inspirou e pensei: Ai, essa terra ainda vai cumprir sua sina. Ainda vai tornar-se uma pequena China. Ao conhecer os belos templos de Angkor e o balneário de Sihanoukville, não sei o que responder aos meus olhos, se o melhor já se foi ou ainda está por vir.


Rosângela Rennó, 2023


Good Apples | Bad apples, 2023

livro impresso em Indigo digital com capa de PVC
15 x 30 cm (fechado) | 620 p + Carta Lenin

criação, design gráfico e coordenação: Rosângela Rennó
textos: Rosangela Rennó e Maurício Lissovsky
pesquisa de imagens: Gabriela Massote, Rosângela Rennó e Beni Conrad 
reproduções fotográficas: Edouard Fraipont e Thiago Barros
construção da carta lenin e mapa fotográfico: Daniela Seixas e Beni Conrad 
tratamento de imagem: Beni Conrad

editado pela artista
edição de 5 + 2 a.p.
inglês
indigo digital printed book with PVC cover
15 x 30 cm (closed) | 620 p + Carta Lenin

creation, graphic design and coordination: Rosângela Rennó
texts: Rosangela Rennó and Maurício Lissovsky
image research: Gabriela Massote, Rosângela Rennó and Beni Conrad 
photographic reproductions: Edouard Fraipont and Thiago Barros
construction of the carta lenin and photo map: Daniela Seixas and Beni Conrad 
image treatment: Beni Conrad
graphic production: Lilia Goes

edited by the artist
edition of 5 + 2 a.p.
English

©  Rosângela Rennó
©  Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó
©  estúdio Rosângela Rennó

Este documento contém o resultado de uma longa pesquisa de imagens e dados, 98% dos quais foram obtidos na Internet. Nessa tapeçaria multidimensional - uma fonte inesgotável de informações -, há essa suspensão do tempo, na qual a distinção entre passado, presente e futuro não faz sentido, transformando qualquer pesquisa em um desafio de cronologia e linearidade narrativa. Essa tarefa só foi interrompida por uma decisão meramente pragmática: a adoção de um formato impresso. Caso contrário, ela poderia ter se mantido enquanto a Internet existisse como fonte.

Esse documento impresso pode ser usado como um livro, um álbum de fotos ou um guia histórico-geográfico para uma seleção de monumentos públicos erguidos em homenagem a Vladimir Ilyich Ulianov, também conhecido como Lênin. Também pode ser entendido como um atlas gigantesco ou uma imensa colagem de fotografias impressas e anotadas, constituindo-se em um mapa-múndi fotográfico - criado a partir das normas de uma cartografia incomum - dividido em 300 partes, para facilitar seu manuseio.

Essa colagem ou, se preferir, atlas, ou guia, ou álbum, ou livro, poderia ser o esboço de um monumento/documento das relações de amor/ódio dos seres humanos e de certas sociedades com a representação escultural do grande líder comunista, além de conter o registro de algumas das muitas vicissitudes de uma categoria de objetos supostamente feitos para "durar para sempre". Entretanto, como documento/monumento, ele está fadado a um estado de eterna incompletude, pois sempre faltará alguma imagem para concluir ou comprovar a história de uma determinada estátua ou busto. Amanhã, uma nova pesquisa na Internet poderá preencher essa lacuna; talvez não...


Rosângela Rennó, 2023
This document contains the result of a lengthy research of images and data, 98% of which were obtained on the Internet. In this multidimensional tapestry — an endless source of information —, there is this suspension of time, in which the distinction between past, present and future makes no sense, turning any research into a challenge in chronology and narrative linearity. This task was only interrupted by a merely pragmatic decision: to adopt a print format. Otherwise, it could have held on for as long as the Internet exists as a source.

This printed document can be used as a book, a photo album or a historical-geographical guide to a selection of public monuments erected in honor of Vladimir Ilyich Ulianov, aka Lenin. It can also be understood as a gigantic atlas or an immense collage of printed and annotated photographs, constituting itself as a photographic world map — created from the norms of an uncommon cartography — divided into 300 parts, to facilitate its handling.

This collage or, if you prefer, atlas, or guide, or album, or book, could be the outline of a monument/document of the love/hate relationships of human beings and certain societies with the sculptural representation of the great communist leader, in addition to containing the record of some of the many vicissitudes of a category of objects supposedly made to ‘last forever.’ However, as a document/monument, it is fated to a state of eternal incompletion, as there will always be some image missing to conclude or substantiate the history of a particular statue or bust. Tomorrow, a new Internet search might fill that gap; maybe not...


Rosângela Rennó, 2023


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aucune bête au monde, 2019

livro de pintura à mão e sobrecapa pintada e emoldurada
livros de Marcel Bigeard e Marc Flament (Paris: La Pensée Moderne, 1959)
29 x 32 x 2 cm (livro fechado) | 104 pp.

editado pela artista
edição de 5 [assinada e numerada]
francês
hand-painting book and painted and framed dust jacket
books by Marcel Bigeard and Marc Flament (Paris: La Pensée Moderne, 1959)
29 x 32 x 2 cm (closed book) | 104 pp.

edited by the artist
edition of 5 [signed and numbered]
French


No momento em que as sociedades repensam a história do colonialismo europeu e os historiadores multiplicam teses sobre o tema e, em particular, sobre a guerra na Argélia, às vésperas do 50º aniversário de seu final, em 2011, o presidente Sarkozy decidiu prestar homenagem ao general Marcel Bigeard (1916 - 2010) – um dos líderes da repressão na Argélia e grande defensor das guerras coloniais – depositando suas cinzas no Palácio Nacional Les Invalides.

Segundo o historiador Alain Ruscio, o general Marcel Bigeard, lendário herói da colonização francesa, foi um militar muito vaidoso que construiu sua própria imagem de glória. "Orquestrou, com maestria, uma construção ideológica, sustentada pelos interesses da própria República, por meio de eficientes mecanismos de pressão sobre suas colônias. [...] A popularidade de Marcel Bigeard, ex-membro da Resistência em plena atividade durante as guerras na Indochina e na Argélia, se explica, sem dúvida, pela sua grande coragem física - sempre envolvido em missões perigosas, dono de um estilo rude, com um relativo respeito pelas hierarquias militar e política e, sobretudo, um sentido aguçado de comunicação. [...] Marcel Bigeard foi um autor prolífico. Sua bibliografia é longa. [...] Ele sempre falava e escrevia sobre si próprio na terceira pessoa do singular (Bigeard fez... Bigeard disse... Bigeard pensa...). Um psicanalista provavelmente veria nisso um certo umbiguismo um pouco exagerado."

Aucune Bête au Monde é um livro editado em 1959, ilustrado, à maneira das revistas de atualidades como Paris Match (fundada em 1949) e Life (1936-2000) bastante populares na época e ditadoras de um estilo de linguagem texto-imagem que foi replicado em vários países: le poids des mots, le choc des photos.  O livro foi composto por textos escritos pelo então Coronel Bigeard e fotos realizadas pelo Sargento-Chefe Marc Flament, em solo argelino, em algum momento da longa guerra pela independência da Argélia (1954-1962).   A fim de criar uma maior coerência entre as fotografias e o título do livro, decidi esconder, por meio da pintura feita à mão, todas as imagens dos militares que aparecem sobre as fotografias. Foram também realizados cortes específicos em algumas páginas para eliminar os textos que identificavam o local onde as imagens foram capturadas. Os apagamentos nas imagens e nas próprias páginas pretendem sugerir um aspecto de universalidade a partir da documentação de uma guerra específica. Que lindo teria sido se o ser animal humano não tivesse deixado nenhuma marca naquelas dunas...


Rosângela Rennó, 2019
Aucune Bête au monde is a book published in 1959, illustrated in the manner of news magazines such as Paris Match (founded in 1949) and Life Magazine (1936-2000), already very popular at the time, dictating a style of text / image language that has been reproduced in several countries: "the weight of words, the shock of photos". The book is composed with short texts, written by Colonel Bigeard, and photos taken by Staff Sergeant Marc Flament, in Algeria, in the middle of the long war for independence (1954-1962).

The artist has decided to hide, through hand-painting, all the images of the soldiers that appear on the photographs. Specific cuts have also been made on some pages to eliminate texts that could possibly identify the places where the images were captured. The erasures in the images are supposed to suggest an aspect of universality in the documentation of this specific war and were thought of as a response to the title itself, created by the author of the text which, in turn, refers to an extracted expression from the book Terre des Hommes, by Antoine de Saint-Exupéry.
On the author of the text of the book, General Marcel Bigeard: In 2011, President Sarkozy decided to pay tribute to General Marcel Bigeard (1916 - 2010), one of the advocates of colonial wars and repressive leaders in Algeria, by placing his ashes at the Invalides, at a time when societies are rethinking the history of European colonialism in the world and, in particular, the war in Algeria, in the light of the 50th anniversary of its end.

According to the historian Alain Ruscio, General Marcel Bigeard, a heroic legend of French colonization, was a very vain military and fully aware of the construction of his own image. Bigeard was "the director of his own glory" - "an ideological construction, orchestrated by himself, relayed by many pressure forces and even by the government of the Republic., [...] The popularity of Marcel Bigeard, former resistance, on the breach during the wars of Indochina and Algeria, is undoubtedly explained by the great physical courage of man, always alongside his paras in dangerous missions, a style made rants, a respect relative - and rather sympathetic - for the military and political hierarchies and ... a keen sense of communication [...] Marcel Bigeard was a prolific author. His bibliography is long. Sticks to his autobiographical works alone, there are seven books, most of which have been reissued, and he often talks about him in the third person singular (Bigeard did ... Bigeard said ... Bigeard think ...) A psycho-analyst would see probably a somewhat oversized navel."


mor charpentier, 2019


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Good Apples - Bad Apples [from Z to A], 2019

dez álbuns em formato de concertina / capa dura / tecido, papel de arroz
aproximadamente 40 imagens digitais em 42 páginas (cada album)
fotos manuscritas e carimbadas impressas em papel de fibra Hahnemühle Matt Fibre 200g
17 x 12 x 3,5 cm (cada um - fechado)

editado pela artista
edição única
fotos de diferentes autores, apropriadas da internet
ten concertina format albums / hard cover/ cloth, rice paper
containing approximately 40 digital images in 42 pages (each album)
handwritten and stamped photos printed in Hahnemühle Matt fibre paper 200g
17 x 12 x 3,5 cm (each one - closed)

edited by the artist
unique edition
photos from diferent authors, appropriated from the internet



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coração das trevas, 2019

autor Joseph Conrad / Imagens Rosângela Rennó
textos de Walnice Nogueira Galvão, Virginia Woolf, Paulo Mendes Campos
15,3 × 23 cm (fechado) | colorido | 224 pp. 
português
editado por Ubu

edição especial:
livro impresso em offset
fólios de livros dobrados, costurados e não aparados em um envelope selado
edição de 400 - assinadas e numeradas
conceito gráfico de Rosângela Rennó

edição comercial:
capa dura / livro impresso em offset
edição de 1.600 exemplares
conceito gráfico de Rosângela Rennó e Elaine Ramos
projeto gráfico de Elaine Ramos

author Joseph Conrad / Images Rosângela Rennó
texts by Walnice Nogueira Galvão, Virginia Woolf, Paulo Mendes Campos
15,3 × 23 cm (closed) | color | 224 pp. 
Portuguese
edited by Ubu 

special edition:
offset printed book
folded, sewn and untrimmed book folios in a sealed envelop
edition of 400 - signed and numbered
graphic concept by Rosângela Rennó

comercial edition:
hard cover / offset printed book
edition of 1.600
graphic concept by Rosângela Rennó and Elaine Ramos
graphic design by Elaine Ramos


Obra-prima da literatura inglesa, o Coração das trevas se tornou também uma referência cultural sobre os horrores da colonização. A história é de Marlow, capitão de um barco a vapor, em sua ida ao encontro de Kurtz, um explorador de marfim de métodos questionáveis, que vive entre os selvagens do Congo e precisa ser levado de volta à civilização. O romance mergulha no mundo interior do personagem principal, em busca do inominável, tendo as trevas da selva africana como imagem do inconsciente. O livro ficou conhecido ainda por ter inspirado o filme Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola.

Edição limitada de 200 exemplares numerados e assinados pela artista plástica Rosângela Rennó, que produziu as imagens do livro. Livro impresso, dobrado e costurado – mas sem refile e sem acabamento – em envelope lacrado de cartão. A edição traz um posfácio inédito do escritor Bernardo Carvalho, ensaios críticos de Walnice Nogueira Galvão e Paulo Mendes Campos, e um texto in memoriam de Virginia Woolf escreveu sobre Conrad.

Como decifrar o que não quer ser decifrado? As últimas palavras de Kurtz ou as imagens incompletas? Esta edição especial propõe duas possibilidades de manuseio: o leitor pode abrir os vincos das páginas, com cuidado, com um estilete ou uma faca, para ler o texto da forma habitual, página após página. Entretanto, dessa forma as imagens ficarão fragmentadas. Se preferir não abrir as páginas fechadas, o leitor pode romper, também com um estilete ou uma faca, as linhas da costura que mantêm os cadernos na ordem estabelecida. Assim, as imagens ficarão acessíveis em sua escala original, mas a leitura linear do texto se tornará impossível.


Rosângela Rennó, 2019




My book of Nepali little shrines [and some words to live by in the dawn of the 21st century], 2018-2020

três cadernos nepaleses feitos à mão em papel lokta, com fotos impressas em papel de arroz 90g e textos escritos à mão presos por cordões de couro
20 x 15 x 8 cm (fechado)

caderno de Patan (51 fotos e 26 textos curtos);
livro de Kathmandu (52 fotos e 27 textos curtos);
livro de Bhaktapur (37 fotos e 38 textos curtos)

edição única
inglês
three handmade Nepali notebooks on lokta paper,
with photos printed on 90g rice paper and handwritten texts attached by leather cords
20 x 15 x 8 cm (closed)

Patan book (51 photos and 26 short texts);
Kathmandu book (52 photos and 27 short texts);
Bhaktapur book (37 photos and 38 short texts)

unique edition
English



The Great Gallery of Mesmerizing Extreme Happiness, 2018-2019

álbum em formato de concertina / capa dura revestida com seda
89 imagens digitais em 42 páginas vermelhas
imagens de celular impressas em papel Hahnemühle Matt fibre 200g
aprox. 33 x 22,5 x 3,5 cm (fechado)

fotos de celular por Rosângela Rennó

edição única
inglês e chinês
concertina-format album / hard cover covered with silk
89 digital images in 42 red pages
celphone images printed in Hahnemühle Matt fibre paper 200grs.
approx. 33 x 22,5 x 3,5 cm (closed)

celphone photos by Rosângela Rennó

unique edition
English and Chinese


Em dezembro de 1949, o Governo chinês aprovou uma resolução que declarava o dia 1 de outubro como o Dia Nacional da República Popular da China. De 1950 a 1960, realizaram-se grandes comícios e desfiles militares maciços para comemorar o dia em que o país foi fundado, mas na década seguinte estas celebrações limitaram-se a comícios na Praça de Tiananmen.

Com o tempo, as grandes comemorações tornaram-se raras e foram substituídas por galas mais pequenas e visitas a parques. A maioria das pessoas considera que os dias nacionais do seu país têm uma importância cultural crucial, funcionando como símbolos de independência e refletindo o seu sistema de governo. Nestes dias, os cidadãos chineses expressam a sua alegria nas ruas e nos jardins, visitando locais onde o prazer coletivo parece quase tangível. O que vemos é uma miríade de pessoas a celebrar o amor pelo seu país e a exaltar a ideia de coletividade.

A partir de 2000, estes feriados prolongados foram convertidos na chamada Semana Dourada, contribuindo para impulsionar o turismo interno na China, permitindo que as famílias fizessem longas viagens para visitar parentes. A Administração Nacional de Turismo da China declarou que os mais de 700 milhões de viagens turísticas efetuadas durante a Semana Dourada em 2017 geraram quase 590 mil milhões de RMB (mais de 80 mil milhões de USD) em receita oriunda do turismo. 

O prazer e a felicidade nos jardins e parques devem ser documentados em fotografias e vídeos. Partilhá-los é uma das formas de multiplicar a euforia, revelando tais estados de espírito a outras pessoas, tudo em comunhão com a natureza e a humanidade. Consumir, fotografar e ser fotografado, tornam-se atos de amor electrizantes.

No próximo ano, o Dia Nacional promete ser uma apoteose.

Rosângela Rennó,  2018
In December 1949, the Chinese Government passed a resolution declaring October 1st as the National Day of the People’s Republic of China. From 1950 to 1960, grand rallies and massive military parades were held to commemorate the day in which the country was founded, but in the following decade these celebrations were limited to rallies in Tiananmen Square.

In time, grand commemorations became rare and were replaced by smaller galas and visits to parks. Most people believe that their country's national days are of crucial cultural importance, acting as symbols of independence and reflecting their system of government. On these days, Chinese citizens express their joy in the streets and gardens, visiting places where the collectiveness pleasure appears almost tangible. What we see is a myriad of people celebrating their love for their country and exalting the idea of the collective.

Starting in 2000, these extended holidays were converted into the so-called Golden Week, helping to boost domestic tourism in China, allowing families to make long journeys to visit relatives. The Chinese National Tourism Administration declared that the more than 700 million tourist trips taken during Golden Week in 2017 generated nearly 590 billion RMB (more than 80 billion USD) in tourism income. 

Pleasure and happiness in the gardens and parks must be documented in photos and videos. Sharing these is one of the ways of multiplying the euphoria, revealing such states of mind to other people, all in communion with nature and humankind. Consuming, photographing, and being photographed, become electrifying acts of love.

Next year, National Day promises to be an apotheosis.

Rosângela Rennó,  2018


#RioUtópico [em construção], 2018

impresso em offset
18 x 16,5 cm (fechado) | colorido | 480 pp.

textos de Thyago Nogueira e Robert Moses Pechman
projeto gráfico de Celso Longo e Daniel Trench

editado pelo IMS
edição de 1.000
português e inglês
ISBN 9788583460459
offset printed
18 x 16,5 cm (closed) | color | 480 pp.

texts by Thyago Nogueira e Robert Moses Pechman
graphic design by Celso Longo and Daniel Trench

edited by IMS
edition of 1.000
Portuguese and English
ISBN 9788583460459



O livro, resultado da exposição #RioUtópico, em cartaz no IMS Rio entre dezembro de 2017 e março de 2018, é um projeto colaborativo da fotógrafa Rosângela Rennó. Partindo de 50 localidades do Rio de Janeiro cujos nomes sugerem algum tipo de utopia, a fotógrafa convidou o público a enviar imagens dessas regiões, que foram incluídas no projeto. O catálogo é um livro-guia que reúne fotografias, mapas e informações das localidades escolhidas pela artista. Ela trabalhou com jovens moradores das comunidades, que foram orientados a fotografar e pesquisar o local onde vivem.

Conhecida pela pesquisa em torno de arquivos e das formas populares de circulação da fotografia, Rennó foi convidada para desenvolver um projeto que refletisse sobre a paisagem do Rio de Janeiro, cidade onde vive e cuja imagem é frequentemente associada aos cartões-postais do Centro e da Zona Sul – território que corresponde a apenas 10% do município.

A mostra faz parte de um projeto da área de Fotografia Contemporânea do IMS que convida artistas consagrados para desenvolver novos trabalhos sobre temas já presentes nas coleções do IMS.

Mais informações https://ims.com.br/exposicao/rio-utopico/


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espírito de tudo, 2017

livro impresso em offset
capa dobrada - pôster
25, 5 x 19,5 cm (fechado) | colorido | 168 pp.

ensaios de Rosângela Rennó e Evangelina Seiler
projeto gráfico da Bloco gráfico
conceito gráfico e editorial de Rosângela Rennó e Bloco gráfico

editado por Cobogó
edição de 1000 exemplares
português e inglês
ISBN: 978-85-5591-024-1

2017 ARLES Les Rencontres de la Photographie
indicado - Prêmio Livros de Fototexto
offset printed book
folded jacket - poster
25, 5 x 19,5 cm (closed) | color | 168 pp.

essays by Rosângela Rennó and Evangelina Seiler
graphic design by Bloco gráfico
graphic and editorial concept by Rosângela Rennó and Bloco gráfico

edited by Cobogó
edition of 1000
Portuguese and English
ISBN: 978-85-5591-024-1

2017 ARLES Les Rencontres de la Photographie
shortlisted – Phototext Books Award


Espírito de tudo – Rosângela Rennó é um desdobramento da exposição individual realizada por Rosângela Rennó no Oi Futuro do Flamengo entre novembro de 2016 e janeiro de 2017. Dividido em seis séries, o livro apresenta as obras desenvolvidas pela artista, em que a sofisticação visual e discursiva se mistura a uma dimensão mística e lúdica. A publicação traz, além das imagens das obras, um texto de Evangelina Seiler, curadora da mostra que deu origem ao livro, citações de artistas e intelectuais, como Caetano Veloso e Marcel Proust, e textos da própria artista. Rosângela é reconhecida pela desconstrução de imagem e memória, tempo e espaço, inserindo sempre camadas críticas e sensoriais.

Livro vencedor do Prêmio Literário Biblioteca Nacional de 2017 na categoria Projeto Gráfico.

https://www.cobogo.com.br/produto/espirito-de-tudo-rosangela-renno-spirit-of-everything-rosangela-renno-571



Río-Montevideo, 2015

livro impresso em offset
costura feita à mão + sobrecapa em papel vegetal impresso
21 x 10,5 cm (fechado) | 212 páginas e colorido - principalmente fotografias

texto de Rosangela Rennó / ensaio crítico de Verônica Cordeiro
projeto gráfico de Bloco gráfico
conceito gráfico e editorial de Rosângela Rennó e Bloco gráfico

editado pela artista e pelo Centro de Fotografia (CdF - Montevidéu)
edição de 600 exemplares
espanhol e inglês
ISBN 978-997 4-716-19-3

2016 ARLES Les Rencontres de la Photographie
indicado - Prêmio de Livros Históricos
offset printed book
handmade sewing + jacket on printed tracing paper
21 x 10,5 cm (closed) | 212 pages and color - mainly photographs

text by Rosangela Rennó / Critical essay Veronica Cordeiro
graphic design by Bloco gráfico
graphic and editorial concept by Rosângela Rennó and Bloco gráfico

edited by the artist and Centro de Fotografia (CdF - Montevideo)
edition of 600
Spanish and English
ISBN 978-997 4-716-19-3

2016 ARLES Les Rencontres de la Photographie
shortlisted – Historical Books Award


A artista Rosângela Rennó foi convidada pelo Centro de Fotografía (CdF) de Montevidéu a realizar um projeto artístico com base no acervo do fotógrafo Aurelio González, que trabalhava para o jornal El Popular, do Partido Comunista uruguaio. São fotos feitas de 1957 até 1973, quando, pressentindo a proximidade de um golpe militar, González escondeu todos os 50 mil negativos num local de difícil acesso. Ele os encontraria de novo muito depois, mais de trinta anos após ocultá-los.

As imagens são um registro dos anos de crise política e decadência econômica do Uruguai, que, como em muitos outros países latinos, precederam a instalação de uma ditadura militar. A seleção precisa de Rennó contém apenas 32 fotos, que misturam esperança e desolação – muito mais desolação que esperança, diga-se. Manifestações festivas, jogos de futebol, lutas de boxe, enterros, veículos parados no meio das vias, crianças de rua e os militares, que, conforme a sequência visual avança, vão ganhando protagonismo nas imagens.

Na exposição, a artista projetava as imagens usando antigos projetores de slides, de diversos modelos. Mas o livro, muito bem construído, tem tanto peso quanto a mostra. É uma celebração, como diz ela no texto de abertura, da possibilidade de “lembrar coletivamente daquilo que esteve a ponto de ser esquecido” (algo, aliás, urgente de ser feito no Brasil, quando ganham força grupos que buscam apagar ou desacreditar a memória violenta da ditadura). Um testemunho impresso do valor de resistência das imagens, e de como às vezes essas imagens sobrevivem à política por um fio.

https://revistazum.com.br/radar/fotolivros-politicos/



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