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Río-Montevideo, 2011-2016

Río-Montevideo series, 2011-2016

vinte mesas de ferro com interruptores e temporizadores, vinte projetores de slide, trinta e dois slides digitais, placas de acrílico, PVC, espelhos e trilha sonora de 6 min inspirada no hino da ‘Internacional Comunista’
dimensões variáveis



20 tables of iron with switches and timers, 20 slide projectors, 32 digital slides, acrylic sheets, PVC, soundtrack inspired by the hymn The Internationale
variable dimensions


Em 1973, em Montevidéu, o fotógrafo Aurelio González previu o golpe militar iminente e passou a esconder todos os negativos fotográficos do El Popular, o jornal do Partido Comunista do Uruguai, de 1957 até aquela data. Esses negativos testemunharam quase vinte anos de declínio econômico e o aumento dos protestos populares que precederam a repressão e, por fim, a ditadura militar. Quase cinquenta mil negativos permaneceram esquecidos até serem encontrados e resgatados pelo mesmo fotógrafo trinta anos depois. 

Durante minha adolescência, na década de 70, minha memória ficou embaçada pela ditadura brasileira, pelo exercício compulsório da negação e do silêncio. Uma névoa parece cobrir os anos 60 e 70 na América do Sul, uma névoa que persiste até hoje, que cria um tipo de pathos em indivíduos de gerações sucessivas. Sob um olhar estrangeiro, submeti algumas fotografias do El Popular às lentes de projetores de slides. Hoje, esses objetos anacrônicos são tão improváveis quanto o reaparecimento dessas fotografias depois de três décadas na obscuridade. A trilha sonora ideal para essa experiência me pareceu ser os primeiros acordes de The Internationale tocados por uma caixa de música. Por meio dessa dupla, não podemos perder de vista o quão espetacular e mágico é perceber a possibilidade de lembrar coletivamente daquilo que estava à beira da amnésia.


Rosângela Rennó, 2016-2023
In 1973, in Montevideo, the photographer Aurelio González foresaw the imminent military coup, and proceeded to hide all the photographic negatives of El Popular, the Communist Party of Uruguay newspaper, from 1957 to that date. Those negatives testified almost twenty years of economic decline and the rise of popular protests that preceded repression and ultimately the military dictatorship. Almost fifty thousand negatives remained forgotten until being found and rescued by the same photographer thirty years later. 

During my adolescence, in the 70s, my memory became clouded by the Brazilian dictatorship, by the compulsory exercise of negation and silence. A fog seems to cover the 60s and 70s in South America, a fog that persists till today, one that creates a type of pathos in individuals from successive generations. Under a foreign gaze, I have submitted some photographs from El Popular to the lenses of slide projectors. Today, such anachronistic objects are as improbable as the reappearance of those photographs after three decades in obscurity.The ideal sound track for this experience seemed for me to be the first few chords from The Internationale played by a music box. Through this duo we cannot loose sight of ho w spectacular and magical it is to perceive the possibility of collectively remembering that which was on the brink of amnesia.


Rosângela Rennó, 2016-2023


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