título do trabalho
work title
data
date

in oblivionem, 1994-1995

in oblivionem , 1994-1995
textos esculpidos em isopor extrudado pintado
dimensões variáveis


chiseled texts on painted extruded polystyrene
variable dimensions

© Thiago Barros

[...] Numa outra instalação, Rennó leva a fotografia ao limite da intransparência: In Oblivionem (1994) a artista encaixa uma série de fotos com suas molduras dentro das paredes e, ao lado, também em baixo-relevo, textos retirados de jornais antigos. As fotos, retiradas de álbuns de família, são escuras. Só um olhar atencioso, aproximando-se muito, capta formas e vultos. Os textos, fragmentos de crônicas cotidianas, relatos de circunstância retirados de jornais antigos, como as imagens, nada trazem à lembrança. São indícios tênues que contribuem para o esquecimento. Feita em relevo sobre a parede, a escritura desses textos remete ao braile, estabelecendo conotações com a percepção tátil: percebemos que não vemos. Essa é a ampliação do olhar que a artista propõe. Mais do que isso, uma vez que as imagens de quase ninguém estão encaixadas no interior das paredes, a artista propõe uma arte sem corpo, uma instalação que é manter vazio o espaço expositivo, lugar do espectador e também da instalação. A superfície do cubo branco, território da arte, é como "uma pele que se tatua" (Herkenhoff, 1997, p. 174). Mas, no vazio, trava-se o embate de um corpo (corpo da arte?) com o corpo do espectador. Nessa instalação, o Vazio é reforçado pela Amnésia. Como escreveu Peixoto: "descontextualizadas, não sabemos mais a que se referem essas imagens e inscrições. Liberadas de seu compromisso de respeito, do vínculo com acontecimentos determinados, podem apenas aspirar à instauração de outras significações, outras inscrições, outros significantes. Permitir contar outras histórias, constituir outras identidades, outros passados” (1996, p. 112). Nada assegura o acesso a essas vidas passadas. Os registros não têm qualquer valia. Aos passantes não é acordado nenhum olhar que os qualifique com uma fugaz identificação. Não há qualquer possibilidade de desvelar o significado dessas coisas. O invisível permanecerá para sempre invisível. Os registros dos trabalhos de nada valem como registros. Apenas atestam o inoxerável caminhar de tudo para a obscuridade. Sombrios, os personagens das velhas fotografias de identidade, nas instalações de Rennó, convertem-se em fantasmas. E, dessa maneira, a artista agrava os traços mortíferos da apropriação. Se um indivíduo morreu em algum lugar no Brasil dos anos 1960, Rosângela não se resigna. Seu trabalho pergunta repetidamente: onde está o sujeito? Nesse contexto, os próprios títulos de suas instalações parecem reconhecer certo destino da arte contemporânea - registrar e recordar e, talvez, resignar-se a essa sua fatal condenação. [...]


FRAYSE-PEREIRA, João A. Arte Contemporânea e a banalização do mal: o silêncio do espectador. In Arte, Dor. Inquietudes entre Estética e Psicanálise (excerto de texto). Cotia, SP: Ateliê Editoria, 2005, pp. 293-328.


texto completo

full text