work title
date
- câmera obtusa, 2022-2023
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cabeça, corpus e membros, 2022
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projeto terra de José Ninguém, 2021
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a imortalidade ao nosso alcance, 2020-2021
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projeto eaux des colonies, 2020-2021
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eaux des colonies (les origines), 2020-2021
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eaux des colonies (en construction), 2021
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Good Apples | Bad Apples, 2019-2023
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exercícios de 3D (transparência), 2019
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Hercule & Hippolyte, 2019
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Killing Che, 2019
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Brasil, 2019
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imagem persistente, 2019
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seres notáveis do mundo, 2018-2022
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nuptias, 2017-2023
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#rioutópico [em construção], 2017-2018
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bodas de porcelana, 2017
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bodas de prata, 2017
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imagem de sobrevivência, 2015
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operação Aranhas/ Arapongas/ Arapucas, 2014–2016
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círculo mágico, 2014/2016
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insólidos, 2014
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lanterna mágica, 2012
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Río-Montevideo, 2011/2016
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corpo extranho africano, 2011
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per fumum, 2010-2011
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menos-valia [leilão], 2010
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memory link, 2009-2010
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série turista transcendental, 2009-2024
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os três reinos de Nasca, 2011-2024
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método básico de assovio Gomero-Tupi, 2014-2016
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esperando..., 2010-2014
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mundo da lua, 2013
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eternidade a dois passos, 2013-2015
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mi mo, kokoro mo, 2012
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Yanğyin bosphoros, 2011-2012
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Kundalini Freedom, 2009-2011
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Uyuni Sutra, 2008 – 2011
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Anuloma-Viloma Azteca, 2010-2011
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bouk [ring/loop], 2006-2009
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Carrazeda+Cariri, 2009
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matéria de poesia, 2008-2013
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o profeta da negociação, 2008
- febre do cerrado, 2008
- febre do sertão, 2008
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si loin mais pourtant si près, 2008
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corpo da alma (o estado do mundo), 2006-2009
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brèd e[k/t] chocolat, 2006-2008
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frutos estranhos, 2006
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a última foto, 2006
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menos-valia [troca-troca], 2005/2007
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apagamentos, 2004-2005
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experiência de cinema, 2004
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corpo da alma, 2003-2009
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bibliotheca, 2002
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COOPA-ROCA: 17 artesãs, 2002
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espelho diário, 2001
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série vermelha (Militares), 2000-2003
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duplo V, 2000-2003
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cartologia, 2000
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Vera Cruz, 2000
- pés de Luanda, 1999
- parede cega, 1998-2000
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vulgo/texto, 1998
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sem título (mórmons), 1998
- vulgo, 1997-2003
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cerimônia do adeus, 1997/2003
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United States (série Mexicana), 1997
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cicatriz, 1996/2023
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sem título (thoughtograph), 1996/2021
- serie vermelha, 1996–1999
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paisagem de casamento, 1996
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hipocampo, 1995/1998
- antinômio II (frente), 1995-1996
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círculos viciosos (472 casamentos Cubanos), 1995
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in oblivionem, 1994-1995
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imemorial, 1994
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Heaven and Hell, 1994
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evaporação de sentido, 1993-1994
- candelária, 1993
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coleção privada, 1992-1995
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olho privado, 1992-1995
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atentado ao Poder, 1992
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a bela e a fera, 1992
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primários, 1992
- duas lições de realismo fantástico, 1991/2015
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a identidade em jogo, 1991
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as diferentes idades da mulher, 1991
- paz armada, 1990/2021
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espelhos pensantes, 1990/2021
- o cidadão sem qualidade, 1990/2021
- qualidades de cidadão, 1990
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anti-cinema (fotogramas), 1989
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anti-cinema (discos), 1989
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pequena ecologia da imagem, 1988
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contos de bruxas, 1988
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Alice (analógica), 1987
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autorretrato com a Rolleiflex do meu pai, 1986
imagem persistente, 2019
Persistent Image, 2019As câmeras digitais que a princípio imitavam o desenho das câmeras mecânicas foram se tornando cada vez mais delgadas e menores, até que se tornaram a mera objetiva do celular inteligente, reduzindo a operação fotográfica a uma simples função do aparelho, um mero dispositivo de comunicação. Os problemas com o arquivamento e organização do material fotográfico analógico foram substituídos pelos problemas inerentes à circulação das imagens, no momento em que o artefato digital encontrou-se com o destino para o qual nasceu: a “world wide web”.
Primeiro vimos a fotografia livrar-se da obrigatoriedade da sua reprodução em papel, fato que inclusive gerou polêmicas em como identificar essa nova imagem que nasce sem um corpo físico. Seria ainda uma fotografia? Deveríamos criar uma outra nomenclatura para o fenômeno? Independente do nome que fosse dado a essa imagem, ela emulava perfeitamente bem as imagens já conhecidas, além de serem infinitamente mais rápidas e eficientes: o apelo e a sedução eram inevitáveis e a desaparição do papel foi celebrada.
Hoje estamos assistindo ao desaparecimento da “câmera amadora”, o veículo responsável, por décadas, pela produção das fotografias de caráter não profissional. (É notório que até mesmo os profissionais têm simplificado seus equipamentos de trabalho, inclusive por questões de segurança.... Os jornais já não contratam mais fotógrafos; preferem que os próprios jornalistas fotografem seus assuntos e sujeitos com um smartphone...) Entretanto, parece que o ser humano ainda se apega à imagem do aparelho fotográfico, não como algo nostálgico, mas como algo que possa lhe assegurar, ainda, a fé nas fotografias. Imagem e câmera nasceram juntas, tal qual irmãs gêmeas, pela própria natureza da imagem técnica. Um dia, talvez, a desaparição ou apagamento da imagem da câmera poderá afetar para sempre o reconhecimento ontológico da fotografia — a mais preciosa das imagens técnicas. Parafraseando o que Márcio Seligmann-Silva escreveu sobre a desaparição das fotografias em papel há mais de uma década: é como se, diante de seu fim, a imagem da câmera se tornasse ainda mais eloquente como uma metáfora ambígua de nossa memória que é, sempre, inscrição de presença e de apagamento.
Se os celulares de hoje são as câmeras de ontem, as câmeras de hoje não precisam mais fotografar nada. Elas servem, porém, como ilustração ou como signo; e estão por todos os lados. A parafernália da fotografia mecânica — câmeras, tripés, lentes, fotômetros, projetores, ampliadores —, subsiste, representada em pen-drives, isqueiros, brinquedos infantis, camisetas, canecos de cerveja, luminárias, porta-retratos, carteiras de dinheiro. São como uma febre: mais do que objetos insistentes, são artefatos inocentes cuja finalidade é fazer com que a lembrança da imagem da câmera persista. A sua função está perdida (para sempre?) mas ainda conseguem acalmar a angustia do homem comum.
Rosângela Rennó, 2019
Digital cameras that at first mimicked the design of mechanical devices, became increasingly thin and small, until they were no more than a goal on the smartphone, reducing the photographic operation to a function among others from the phone, to a simple communication device. The problems of archiving and organizing film photographic material have given way to the questions inherent to the circulation of im- ages, at the moment when the digital artefact met the fate for which it was born: the "world wide web".
We first saw the photograph liberating itself from the obligation of its reproduction on paper, which fueled endless controversies about how to describe this new nascent image devoid of "physic body". Would it still be a photograph? Regardless of the name given to this new visual phenomenon, it perfectly emulated the images / photos as we knew them, and it was also infinitely faster and more effective: unstoppable, the attractiveness and seduction it exerted sounded the knell paper.
We are witnessing another disappearance today, that of the "amateur camera", vehicle, for decades, the production of non-professional photos. (We know that even professionals simplify their work equipment, often for reasons of safety and economy ... Newspapers no longer hire photographers, they prefer that journalists photograph their own subjects with smartphones ...). It seems, however, that the human being is still attached to the image produced by the camera, not nostalgia, but as something that allows him to keep the faith in photography as reliable documentation of reality. Image and camera are born together, like twins, by the very nature of the technical image. One day, perhaps, the disappearance or erasure of the image of the camera may affect forever the ontological recognition of photography - the most valuable technical images. One could say, to paraphrase Márcio Seligmann-Silva, who wrote, more than ten years ago, about the disappearance of photographs on paper: it is as if, faced with his imminent death, the image produced by the Camera was even more eloquent, like an ambiguous metaphor of our memory which is always an inscription of presence and erasure.
Mobile phones are yesterday's cameras and today's "cameras" do not need to photograph anything anymore. They serve, nevertheless, of illustration and sign; and they are everywhere. The paraphernalia of mechanical photography - housings, tri- pods, lenses, photometers, projectors, enlargers - remains, in the form of USB keys, lighters, children's toys or represented on beer glasses, T-shirts, lamps, frames or wallets. These objects are like a fever: more than insistent objects, they are innocent artifacts whose purpose is to prolong the appearance of the camera. If the function is lost in time (forever?), These small objects still manage to calm the anxiety of the average man.
Rosângela Rennó, 2019