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exercícios de 3D (transparência), 2019

Exercises on 3D (transparency), 2019
visor estereoscópico do início do século 20 e duas placas de acrílico, contendo dois textos do projeto Arquivo Universal (1992 - ), em português
19,5 x 13 x 12 cm
stereoscopic viewer from early 20th century and two Plexiglass plates, containing two texts from the Universal Archive project (1992 - ), in Portuguese
19,5 x 13 x 12 cm

© Edouard Fraipont
© Edouard Fraipont
© Edouard Fraipont
© Edouard Fraipont
© Edouard Fraipont
© Edouard Fraipont

O dispositivo ótico de visualização de fotografias em três dimensões foi criado em 1840, na Inglaterra e, desde então, a indústria dedicada ao uso da imagem como entretenimento se esforça em criar dispositivos que possam fazer o ser humano mergulhar cada vez mais fundo na realidade virtual, levando-o a pensar que ela é algo além do que a mera “ilusão de ótica”. Os textos do Arquivo Universal aplicados a essa tecnologia causam grande desconforto, não apenas pelo esforço em conseguir ‘ver’ apenas um texto com palavras que parecem flutuar diante dos olhos, mas também convertê-los em imagens, depois da leitura do mesmo. Algumas fotografias são facilmente reconhecíveis ou decifráveis. Outras, se desconhecidas, vão solicitar ao leitor o exercício da construção mental ou da invenção, para se tornar um espectador. Entre a documentação e a ficção, toda conversão texto-imagem através da conexão olho-cérebro vai deixar alguma “cicatriz” no córtex cerebral do indivíduo.

O Arquivo Universal é um projeto de compilação/coleção de textos jornalísticos sobre imagens fotográficas, iniciado em 1992. Os textos extraídos de jornal de uma forma geral exploram a maneira como o ser humano lida com a representação fotográfica. Através da linguagem simples e direta, a potência da imagem se encontra na capacidade do leitor ativar sua própria memória através da leitura do texto, gerando uma infinidade de imagens virtuais, todas legítimas e intransferíveis.

Um texto histórico:*

[Através do estereoscópio] a mente tateia o seu caminho até às profundezas da imagem. A forma está doravante divorciada da matéria. [...] A matéria em grandes massas tem de estar sempre fixa e é cara; a forma é barata e transportável. Temos agora o fruto da criação, e não precisamos de nos preocupar com o caroço. Os homens irão caçar todos os objetos curiosos, bonitos e imponentes, como caçam o gado na América do Sul, para aproveitarem as peles, deixando as carcaças, por não terem valor. [...] A próxima guerra europeia vai enviar-nos estereografias das batalhas. Afirma-se que é possível fotografar a explosão de uma granada. Está porventura para breve o tempo em que um clarão, tão súbito e instantâneo como o do relâmpago que mostra uma roda a girar completamente imóvel, preservará o próprio instante do choque do confronto entre exércitos poderosos que estão mesmo agora a encontrar-se. O relâmpago do céu fotografa realmente objetos naturais sobre os corpos daqueles que acabou de destruir. O relâmpago de sabres e baionetas em confronto pode ser forçado a estereotipar-se a si mesmo numa quietude tão completa quanto a queda d’água do Niágara. Seríamos levados longe demais se desenvolvêssemos a nossa crença quanto às transformações que serão engendradas pelo maior dos triunfos humanos sobre as condições terrenas, o divórcio entre forma e substância. Deixemos os nossos leitores preencherem um cheque em branco sobre o futuro, conforme quiserem; pela nossa parte, damos antecipadamente o nosso apoio à sua imaginação.

*HOLMES, Oliver Wendell. O Esterereoscópio e o Estereógrafo. In Atlantic Monthly, 1859.


Rosângela Rennó, 2019
The three-dimensional optical photo viewing device was created in 1840 in England, and since then, the industry dedicated to the use of image as entertainment has strived to create devices that could plunge people deeper and deeper into virtual reality, leading them to think that it is something beyond the mere "optical illusion". The Universal Archive texts applied to this technology cause great discomfort, not only because of the effort to 'see' only one text with words that seem to float before the eyes, but also to convert them into images after the reading. Some photographs are easily decipherable, some others aren't. However, all will be impregnated in the viewer's memory. 

The Universal Archive is a project of compilation / collection of journalistic texts about photographic images, started in 1992. Texts taken from newspaper generally explore the way humans, deal with photographic representation. Through simple and straightforward language, the power of the image lies in the reader's ability to activate his own memory by reading the text, generating a multitude of virtual images, all legitimate and non-transferable. 


Mor Charpentier, 2019


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