Rennó ou a beleza e o dulçor do presente

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    […] É no universo da familiaridade e do álbum de família que se introduzem fantasmas e terrores na obra de Rosângela Rennó. Em Irmãs Siamesas (1988), duas fotografias de mulheres são unidas por um traço a lápis. Um signo gráfico é sobreposto à imagem para consignar, sobre o retrato de família, que a fotografia é o laço afetivo que atravessará o tempo. O deslocamento é do lugar no cérebro do arquivo da memória visual para a usina do esquecimento. O congelamento do tempo, reiterado nas operações físicas sobre o corpo (desbotamento, cortes, recortes, projeções), aponta para uma lógica também fora da imagem. Onde a fotografia seria agenciamento da morte (como interpreta Roland Barthes) (21), fragmentos fotográficos e migalhas de desejo reintegram uma presença e, finalmente, apontam para a construção do Sujeito. O fetiche fotográfico incide sobre uma ideia de falta justamente ali onde o Sujeito se constitui. Rosângela Rennó produz, cruamente, identidades melancólicas, imagens que reivindicam a nostalgia de um dia terem sido alguém. […]


       1.       Roland Barthes, A Câmara Clara, Lisboa, Edições 70, 1981, p.129: “Todos esses fotógrafos que se agitam no mundo, dedicando-se à captação da atualidade, não sabem que são agentes da Morte. É o modo como o nosso tempo assume a Morte: sob o álibi denegatório do terrivelmente vivo, de que o fotógrafo é, de certa forma, o profissional”.


    HERKENHOFF, Paulo. Rennó ou a beleza e o dulçor do presente. In Rosângela Rennó. Edusp: São Paulo, 1996, pp. 115-191.


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