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O espírito de Rosângela Rennó


Textos relacionados ao trabalho


Texts linked to the work Magic Lantern

    [...] A relação entre visível e invisível prossegue na instalação Lanterna mágica, na qual ampliações fotográficas em preto e branco, realizadas em papel à base de sais de prata e gelatina, encontram-se maculadas por uma grande mancha escura que toma todo o seu centro, formando uma espécie de buraco negro. Essas máculas foram provocadas por um deliberado excesso de luz irradiado sobre as suas superfícies, gesto provocado pela artista. As ampliações são acompanhadas por oito “lanternas mágicas” – projetores antigos do século 19 e do início do século 20. Somos convidados a manipulá-las, de forma a projetar sobre as paredes, ao lado das ampliações, visões agora imaculadas das mesmas paisagens. A artista faz uso da luz para produzir efeitos opostos, ora de aparição, ora de apagamento. Note-se que cada uma das projeções dura um tempo breve. Acionamos as lanternas, somos tomados pelo encantamento e, quando nos damos conta, tudo se apagou, deixando somente os vestígios na memória. Rosângela parece nos recordar aqui a possibilidade de alargarmos o tempo de dedicação a uma mesma imagem em uma época marcada pelo déficit de atenção.

    A dimensão da espera torna-se fundamental. E é justamente esta que encontra-se perdida em uma época na qual todo tempo “vazio” é preenchido. Ansiosos, passamos os dedos pelos celulares diariamente entrando em contato com milhares de imagens que serão, poucos segundos depois, esquecidas. Em Lanterna mágica, por um lado, a artista veda a imagem – procedimento característico de sua obra – e, por outro, deixa-a existir por uma duração breve. Assim, existe aqui a indução a uma atenção redobrada diante daquilo que sabemos que irá acabar, como também entra em cena a magia que somente o tempo da espera pode instaurar. [...]


    DUARTE, Luisa. O espírito de Rosângela Rennó. In Zum, 2017. Disponível em: https://revistazum.com.br/radar/espirito-de-tudo/

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