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vulgo/texto, 1998  

Alias/Text, 1998
  •       animação de palavras em vídeo, placa de acrílico e tripé em alumínio
    200 x50 x 50 cm
          word animation in video, Plexiglas plate and aluminum tripod
    200 x 50 x 50 cm


Entre os milhares de negativos de vidro que encontrei na sala do Museu Penitenciário Paulista, em 1995, havia um pequeno conjunto onde as cabeças de alguns presidiários eram vistas de costas, sem qualquer forma de identificação, além de um número manuscrito sobre a emulsão do negativo. Elas haviam sido tiradas com o objetivo de documentar o redemoinho capilar - ou coroa -, cuja existência é uma característica comum a todos os seres humanos, mas necessariamente única em cada indivíduo. Esses negativos exalam uma estranheza típica da documentação pseudocientífica do final do século XIX, além de serem claramente associados às teorias eugenistas adotadas no Brasil, no início do século XX. Sua reprodução em larga escala, flertando com a abstração, e sua colorização me pareceram ser os melhores meios de provocar uma ruptura com sua função inicial. Na série Vulgo [Alias] (1998-2003), o objetivo de destacar as coroas dessas figuras anônimas em tons suaves e sanguíneos não era apenas incutir um senso de individualidade nesses indivíduos que haviam sido transformados em meros números pelo sistema prisional, mas também dar fisicalidade a imagens históricas de confinamento. A conservação, o exame, a releitura e a reinterpretação desses documentos históricos são ferramentas importantes na luta contra a ignorância estrutural enraizada nos fundamentos socioculturais do Brasil.


Rosângela Rennó, 2023 
Among the thousands of glass negatives that I found on the Penitentiary Museum of São Paulo, in 1995, there was a small set of them, showing the heads of some inmates, seen from the back, without any supplementary identification, besides a handwritten number on the emulsion surface. They were made with the intention of documenting the different swirls — crowns —, a feature common to all human beings that’s necessarily unique in form. These negatives exude strangeness typical of purportedly scientific documentation from the late 19th century, beyond being clearly associated to the eugenic theories adopted in Brazil, in early 20th century. Rendering them large-scale, bordering on abstraction, and colorization seemed to me ideal ways of provoking a rupture with their original function. In the Vulgo [Alias] series (1998-2003), highlighting the crowns of these ‘anonymous’ figures in soft, sanguine tones, was not only intended to infuse a sense of individuality to these individuals, who had been transformed into numbers by the prison system, but also to confer corporeality to historical images of containment? Or confinement. Conserving, reviewing, rereading, and reinterpreting these historical records are fundamental tools in combatting structural ignorance, this weed rooted in the sociocultural foundations of Brazil.


Rosângela Rennó, 2023


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