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bibliotheca, 2002

Bibliotheca, 2002
37 vitrines contendo álbuns antigos de fotografia e fotografia em cor laminada sob acrílico, mapa e arquivo de aço


37 display cases containing photo albums and digital color photographs mounted on Plexiglas, one map and one painted steel file


Como o sistema de armazenamento/arquivamento foi criado por mim, exclusivamente para a Bibliotheca, reservo-me o direito de nada dizer, aqui, sobre o rigor na pesquisa ou sobre a veracidade das informações fornecidas aqui ou lá. 

Trata-se de uma coleção de cem álbuns, caixas de slide e de negativos fotográficos organizados, dispostos e fechados dentro de trinta e sete vitrinas, divididas em dez grupos. Esses grupos são como ‘continentes’ representados numa cartologia muito particular, onde cada vitrina encerra uma identidade ou uma cultura específica, cuja 'vizinhança' pode ser harmoniosa ou contrastante. Acompanha um mapa-múndi onde alfinetes numerados mostram os locais de aquisição dos objetos, ao mesmo tempo em que dão as primeiras pistas sobre o que define as cinco cores usadas nas vitrinas. Um arquivo de aço com duas gavetas contém as fichas numeradas que correspondem a cada álbum, onde se lê algo sobre aquelas cem coleções de imagens, isto é, cem narrativas visuais que o espectador jamais poderá manipular. 

O espectador pode conhecer a Bibliotheca e extrair dela algum proveito de três maneiras distintas, porém, complementares. De início, como em um museu, ele passeia por entre as vitrinas, e, assim, perceber, por sua disposição, quais as relações existentes entre elas. Ou não.

Com um pouco mais de tempo, a partir da observação do mapa-múndi, o espectador se transforma em investigador ao buscar conhecer algo mais sobre o destino de cada objeto; isso o induz de volta às vitrinas para uma análise mais cuidadosa do seu conteúdo, embora, lamentavelmente, restrita às suas laterais. Se quiser.

Com mais disposição, como dentro de um arquivo, vai até o fichário e pesquisa o que a ‘arquivista/bibliotecária’ concluiu a partir de sua observação minuciosa. Através dele o espectador se aprofunda mais no histórico de cada álbum e na diáspora das fotos. Mesmo que os álbuns, como de costume, quase nunca carreguem o nome do proprietário, o código de cores é bastante elucidativo e esclarece a origem das imagens e o destino dos álbuns. Sempre subordinado ao tempo de dedicação à Bibliotheca, o pesquisador se torna um leitor, ao deleitar-se com o livro de título homônimo que contém cerca de quatrocentas fotografias provenientes daqueles álbuns e que nos faz pensar na condensação de todas as narrativas em uma só, como se passasse, finalmente, do arquivo à biblioteca. Ou nada disso.


RENNÓ, Rosângela. Obras e textos de Rosângela Rennó. In Frutos estranhos/Seltsame Früchte/Strange Fuits. Catálogo da exposição. Fundação Calouste Gulbenkian. Fotomuseum Winterthur, 2012, p. 233
As the storage/archiving system was created by me exclusively for Bibliotheca, I reserve the right to say nothing here about the meticulousness employed in the research or the accuracy of the information provided here and there.


This is a collection of 100 albums, slide boxes and photographic negatives, organized, arranged and enclosed within 37 displays, divided into 10 groups. These groups are like 'continents' represented in a very particular cartography, where each display contains an identity or specific culture, whose 'neighborhood' can be harmonious or contrasting. It comes with a world map where numbered pins show the locations where objects were acquired, while giving us the first clues about what lies behind the 5 colors used in the displays. A file cabinet with two drawers contains the numbered cards that correspond to each album, where information can be read about the 100 collections of images; that is, 100 visual narratives that the viewer can never handle.

The viewer can get to know Bibliotheca and extract some benefit from it in three different, but complementary ways. At first, as in a museum, he can walk among the displays and perceive, through their disposition, the relationships between them. Or not.

With a little more time, through observation of the world map, the viewer becomes a researcher, seeking to uncover something more about the fate of each object; this sends him back to the displays for a more careful analysis of their contents; although, unfortunately, this is restricted to their sides. If he wants to.


With greater disposition, as if in a file room, the viewer can consult the search index and research what the 'archivist/librarian' concluded from their careful study. From there, he delves deeper into the history of each album and into the diaspora of photos. Even though the albums, as usual, almost never carry the owner's name, the color code is quite revealing and clarifies the origin of the images and fate of the albums. Always subordinate to the time dedicated to Bibliotheca, the researcher becomes a reader, reveling in the eponymous book which contains about 400 photographs from those albums and suggests a condensation of all the narratives into one; as if passing, finally, from the file room to the library. Or none of that.






RENNÓ, Rosângela. Works and texts of Rosângela Rennó. In Frutos estranhos/Seltsame Früchte/Strange Fuits. Exhibition catalogue. Fundação Calouste Gulbenkian. Fotomuseum Winterthur, 2012, p. 235


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