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corpo da alma (o estado do mundo), 2006 - 2009 

Body of Soul (The State of the World series), 2006-2009

impressões com tinta pigmentada sobre papel Hahnemühle Photo Rag 308g
165 x 112 cm



pigmented ink print on Hahnemühle Photo Rag 308g paper
165 x 112 cm


Pouco depois da invenção da fotografia, surgiu a prática de contratar fotógrafos para tirar retratos de pessoas que carregavam uma foto de um ente querido morto ou desaparecido. Assim, desde muito cedo, a fotografia foi vista como tendo uma capacidade um tanto mágica de salvar o retratado da morte espiritual.

Os fotógrafos profissionais aprendem e aplicam essa lição, que é simples do ponto de vista de seu desempenho, mas inclui algo que excede a técnica: documentar o retrato é como dar ao indivíduo “que estava lá” um novo senso de presença, por meio de seu segundo corpo, o fotográfico. Se a alma já havia sido capturada no primeiro retrato - o corpo fotográfico original -, a reprodução do retrato revalida essa experiência de sobrevivência. Parafraseando Roland Barthes, a operação mágica também é simples: o que “estava lá” se torna “o que nunca deixou de estar aqui”. 

Essas fotografias são frequentes em jornais e revistas em diferentes tamanhos e qualidades de impressão. Ampliar o meio-tom dos pontos que compõem a fotografia de forma exagerada é um artifício concebido para simular uma aproximação radical da fotografia impressa, como se quisesse tornar visível algo oculto, encapsulado em sua superfície. O resultado, no entanto, é uma imagem cada vez mais enigmática, que confunde quem dela se aproxima, protegendo ainda mais o que ela guarda em algum lugar secreto.


Rosângela Rennó, 2023
Shortly after the invention of photography, the practice of commissioning photographers to take portraits of people carrying a picture of a dead or missing loved one was born. Thus, very early on, photography was seen to have a somewhat magical capacity of saving the portrayed from spiritual death.

Professional photographers learn and apply this lesson, which is simple from the point of view of its performance, but includes something that exceeds technique: documenting the portrait is like giving the individual ‘who was there’ a new sense of presence, through their second body, the photographic one. If the soul had already been captured in the first portrait — the original photographic body —, the reproduction of the portrait revalidates this experience of survival. Paraphrasing Roland Barthes, the magical operation is also simple: what ‘was there’ becomes ‘what never ceased to be here.’ 

Such photographs are frequent in newspapers and magazines in different sizes and print qualities. Enlarging the halftone of dots that compose the photograph in an exaggerated way is an artifice conceived to simulate a radical approximation of the printed photograph, as if to make visible something hidden, encapsulated in its surface. The result, however, is an ever more enigmatic image, confusing those who approach it, further shielding what it keeps in some secret place.


Rosângela Rennó, 2023


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