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mi mo, kokoro mo, 2012 

Mi mo, kokoro mo, 2012 
vídeo monocanal (1920 x 1080, cor/som, 18’) e adesivo vinílico  
edição de video e áudio: Isabel Escobar
trilha sonora de Siri, baseada na melodia do hino da Internacional Comunista

single-channel video (1920 x 1080, color/sound. 18’) and vinyl adhesive
video and audio editing: Isabel Escobar
soundtrack by Siri, based on the melody of “The Internationale”



A mais meridional das capitais sul-americanas não resiste ao tempo. Simplesmente o acompanha, sem pressa pelo “novo”, transformando-se lentamente, sem se desesperar pelo metal que não brilha mais, pelo néon que não acende, pelo estilo que se tornou anacrônico. O que poderia ser resultado de uma melancolia mal resolvida pós-repressão – que teria envenenado a incrível vocação revolucionária daquele povo – torna-se um gesto político e faz com que o tempo se ajuste aos desígnios e desejos da cidade e seus habitantes. Austeridade e sabedoria.

Em Montevidéu, além das encardidas paredes do Museo Blanes, um verdadeiro tesouro se esconde no fundo do terreno: um surpreendente jardim japonês, essência da natureza condensada em 2.000 metros quadrados. Em torno das aleias meditativas em forma de “infinito”, nenhum elemento fundamental foi esquecido – pedra, bambu, água, flores, carpas, lanterna de pedra, a “ponte de deus”, a “casa de chá”, o desenho na areia branca – e nenhum deles é supérfluo.  Austeridade e equilíbrio.

Um dia, percorrendo as trilhas da internet, deparei-me com as mais lindas interpretações da Internacional: um solo de violão de Daisuke Suzuki, executado no fim do filme Mi mo kokoro mo (de Haruhiko Arai, 1997) e seus primeiros acordes reproduzidos em uma simples caixinha de música. A cada vez que a corda acaba, recomeçamos o percurso em busca de um ideal. Repetir repetir – até ficar diferente, diria o poeta Manoel de Barros. Cuerpo sí corazón también, dizem os montevideanos. Eles estão certos. Austeridade pero sin perder la ternura jamás.


Rosângela Rennó, 2012
The southernmost capital in South America does not resist time. It simply accompanies it, with no hurry for 'the new,' slowly transforming itself, without giving up hope for the metal that no longer shines, for the neon that no longer glows, for the style that has turned anachronistic. What could be the result of an unresolved post-dictatorship melancholy — which may have poisoned this people's incredible vocation for revolution — becomes a political gesture, making it so time adjusts to the plans and desires of the city and its inhabitants. Austerity and wisdom.

In Montevideo, beyond the dingy walls of the Museo Blanes, a veritable treasure is hidden behind the building: a surprising Japanese garden, the essence of nature condensed into 2000 square meters. Surrounding the meditative paths that trace the symbol for ‘infinity,’ no fundamental elements have been left out —stone, bamboo, water, flowers, carp, the stone lantern, the ‘bridge of god,’ the ‘teahouse,’ the drawing in the white sand— and not one of them is superfluous. Austerity and equilibrium.

One day, while riding the rails of the internet, I came across a beautiful rendition of the Internacional: an acoustic guitar instrumental played in the Haruhiko Arai film entitled Mi mo kokoro mo, which translates as “body yes, heart too.” The Montevideans are right. Austerity pero sin perder la ternura jamás [“but without ever losing tenderness”].


Rosângela Rennó, 2016